domingo, 6 de maio de 2012

"E a loucura finge que isso tudo é normal"


Brindo o leitor com uma pequena parte das minhas reflexões a respeito da minha experiência na psiquiatria. Penso que todas essas questões abaixo podem (e devem) ser aprofundadas. E para isso conto com vocês que estão lendo.
(...)
As experiências de maior contato com o paciente me fizeram refletir a respeito daquilo que chamamos de loucura. A loucura, que segundo o senso comum, pertence sempre aos outros e nunca a nós mesmos. Já me disseram uma vez que o louco é aquele que foge da realidade. A diferença entre o artista e o louco é que o artista consegue fugir e voltar. O louco permanece onde esta, sem conseguir se encaixar em padrões pré estabelecidos. Talvez, em alguns momento de nossas vidas, em situações de intenso sofrimento, como por exemplo a perda de algum ente querido, invejamos os loucos por permaneceram em seu estado de alienação e indiferença.
Com o tempo, não consegui enxergar o perfil dos loucos e sim pacientes psiquiátricos. Todos que estavam ali se relacionavam de alguma forma com a realidade. Seja em gestos simples como responder pelo próprio nome ou estender a mão para apanhar o medicamento.
Em contra partida, testemunhamos muitos profissionais que demonstraram o desejo de uma evasão daquela realidade vivenciada. (...) Não podemos apenas culpa-los. Trabalhar em um hospital psiquiátrico nos faz questionar a respeito de quem precisa ou não de tratamento.
Questiono a respeito da definição de loucura. Talvez não haja cabimento a utilização do termo, visto que todos possuem momentos de alienação para com a realidade. Cabe nesse momento citar a famosa frase de Caetano Veloso: “de perto ninguém é normal”. Somos todos potenciais pacientes psiquiátricos, e em alguns momentos loucos.
(...)
Talvez alguém que esteja lendo esse blog ou a outros blogs só esteja buscando momentos de evasão da sua própria realidade. Assim como eu no ato de escrever. De qualquer forma, obrigado pela loucura!

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