domingo, 25 de abril de 2010

Discurso de aniversário

Esse ano resolvi fazer um discurso. Não para ser lido ou declamado, apenas queria registrar o momento. Sim caro leitor. No dia 26 de Abril completarei aproximadamente 7300 dias de sobrevivência (pra quem não sabe, 20 anos) ao nosso mundo atual. Desculpem pelo egocentrismo, mas esse post tem um caráter bem pessoal.

Confesso que ando assustando. E os motivos disso, lembram as divagações de Cazuza em seu filme. Ando assustado com a velocidade de mudança das coisas. O mundo tá mudando e eu peguei carona nesse processo. Meus professores da enfermagem me lembraram o quanto eu mudei do inicio do curso até agora. Quando paro para pensar, vejo que essa mudança foi de fato assustadora. Pelo julgamento dos meus mestres, caminho na direção certa, o que ao menos é um alívio. Isso conforta, mas não deixa de assustar.

Nesse ano de 2010, defini algumas metas pessoais: julgar menos, continuar valorizando, e criar mais. Ainda que me sinta distante desse processo, vejo esse ano de 2010 como promissor.

Tenho conhecido pessoas interessantes, a maioria das vezes de formas divertidas. Se um dia realmente resolver escrever “as crônicas de pato” vou me orgulhar da forma com que consigo desfrutar da minha própria juventude. Quem me conhece sabe o quanto sou recompensado pela minha ousadia. “Deus ajuda os ousados, letrados e tarados”. De todas as frases que criei, essa é uma das mais geniais (Não sou nada humilde). Tenho ouvido amigos, principalmente os mais velhos. Esse ano recebi dois conselhos bem interessantes:

-Vitor, nunca perca essa sua cara de pau.

-Vitor, aqui na faculdade, as pessoas são muito bitoladas. Não temos oportunidade de aprender nada que não esteja relacionado a área de saúde. Não se desliga do mundo das artes, porque vc pode ficar igual a eles.

Sábios conselhos. Pretendo segui-los fielmente. Pretendo enxergar a sensibilidade do mundo. Pretendo ver a maldade nos olhos das pessoas e retribuir com um sorriso. Tenho tentado aprender.

Tenho buscado separar um tempo para ficar só. “De mãos dadas comigo mesmo”. Nem sempre é fácil. As vezes vago sozinho durante shows alternativos, observando o comportamento das pessoas. Um dos meus prazeres tem sido observar os outros. Me isolo de grupos grandes e busco uma paz interior. E paro constantemente para observar o ambiente em que estou inserido. E tudo isso faz parte do aprendizado.

Tenho aprendido, aos poucos, valorizar sorrisos sinceros. Desvalorizo o sexo e os momentos carnais. É um mecanismo bem eficiente de domar meu ego ferido. Porque esse ano já tive meu ego gravemente ferido, o que é raro de acontecer. Mas as vezes acontece. Faz parte do aprendizado.

Enfrentar ou fugir dos fantasmas que insistem a rebaixar nosso ego é uma questão de escolha. Tenho permutado entre as duas ações, sempre indeciso. Oscilamos diariamente entre o progresso e o regresso. Faz parte do aprendizado. Até o fim do ano, ainda pretendo mudar bastante. Seguir com o processo de aprender.

Olho para trás. Apesar dos meus medos infantis, devo ficar feliz por tudo que tem acontecido comigo. Devo me orgulhar dos sorrisos e abraços sinceros e espontâneos. Devo rir dos beijos e relacionamentos mal acabados (e não são poucos). Talvez eu precise fazer um esforço maior para mudar certos hábitos. Devo, prioritariamente, me permitir. Sofro por perder meu tempo com ódio e inveja. Aos poucos tento domar esses sentimentos ruins. E tudo isso faz parte do aprendizado. Vejo que tenho muito o que aprender.

Preciso te agradecer leitor, não só pela leitura, mas também pela paciência. Preciso agradecer especialmente a aqueles que costumam a comentar aqui. Vcs não tem idéia do quanto me estimulam a escrever. Têm aparecido novos seguidores. E ainda conto com a fidelidade dos seguidores “antigos” que sempre estão aqui formulando seu diagnóstico moral sobre minha pessoa. E sim, isso me faz feliz. Vc leitor, é fundamental para a perpetuação dessa escrita. Amanha é meu aniversário, mas hoje, sou eu quem estou te aplaudindo.

domingo, 18 de abril de 2010

Fantasmas anônimos

Passou os últimos dias pensando na magia de sua cidade. Só se falava na sua cidade. Atualmente, a cidade da corrupção. A cidade de adolescentes agressivos e inconseqüentes. A cidade do ‘nada para fazer’. Mas ele não se importava. Ficava informado apenas para cumprir seu papel como cidadão. O que acontecia em sua volta não fazia grande diferença. Deixava as criticas para os mais informados e letrados. Tinha sede de arte. Em sua cidade havia cultura.

Mas quem é aquele rapaz solitário que constantemente se esconde no meu da multidão?!

-Sou filho de Brasília, a cidade dos encontros e desencontros. Sou filho de Brasília, a cidade da arrogância. Sou filho de Brasília, a cidade do progresso(leia-se regresso). Sou filho da cidade construída sob cimento e restos mortais. Caro amigo candango, devo lhe pedir um favor: não fale mal da minha cidade, você não tem esse direito. Respeito seus criadores. Exijo o mesmo de você.

Essa exigência tão pontual se deve as contradições daqui. No plano civil, crescemos 50 anos em 5. Pelo menos é o que diziam os políticos á 50 anos atrás. Brasília, fruto da politicagem. Minha replica para essa afirmação é bem pontual: No plano civil, crescemos 50 anos em 5. No plano moral, regredimos 500 anos em 5. Veja bem caro leitor, estamos falando sobre a cidade construída a base de cimento e restos mortais. Recentemente, relembrei desse fato tão porcamente registrado ao assistir uma peça de teatro. E é sobre isso que estamos falando hoje.

Em pleno século 20, ninguém se importava com a ralé imunda morta. O sonho de políticos continuava vivo sob o cadáver de trabalhadores simples. Acho que essa falta de dignidade moral explica tudo. A falta de escrúpulos de quem governa, a passividade de quem se faz governado. A magia dos encontros e desencontros, normalmente acompanhados de sorrisos sinceros, mascaram nosso triste passado. Os anônimos mortos foram esquecidos. Mas eles continuam aqui. Assombrando a nossa cidade. E isso faz de Brasília, o que ela é. Uma cidade cheia de mascaras, mas que nunca deixa de ser especial. Daqui a uns dias nossa cidade fará meio século de vida. Não temos governador. Mas não há o que se temer. Os fantasmas anônimos nos protegem. Os fantasmas anônimos vão garantir que Brasília continue sendo Brasília, independente do que aconteça daqui para frente. E eu sempre estarei protegido por esses fantasmas.

Penso em botar isso em minha dissertação de mestrado. Se a banca examinadora for composta de espiritistas, serei chamado de mestre.

Obrigado pela leitura!

domingo, 11 de abril de 2010

As crônicas de pato

1ª história:

Era domingo á noite. O fim de semana tinha sido péssimo. Havia um excesso de energia acumulado naquele rapaz. Ás 22h30min, sem pensar muito, decidiu correr. Precisava descarregar as energias, secretar endorfina. Apesar da falta de ritmo, corria em uma velocidade intensa. Pretendia chegar em casa exausto. Depois daquilo queria tomar banho e dormir. No meio do caminho depara com um mendigo simpático que grita:
-faaala veio!
-faala rapaz!
-tá correndo de que?!

-da policia!

A resposta estava na ponta da língua. O mendigo deu uma risada super expontânea. E nessa brincadeira, o rapaz ganhou seu dia.

2ª historia:

Meio dia. Horário de pico. O motorista estava preso em um engarrafamento. O vidro do carona estava fechado como de costume. Pediu passagem para o carro da direita. Era uma mulher aproximadamente da sua idade. A mulher prometeu ceder passagem assim que o sinal ficasse verde. Ao analisar sua expressão facial, o rapaz concluiu que o transito pesado irritava a motorista generosa. Apareceu um panfleteiro justamente entre os carros dos motoristas. Educadamente o garoto abriu um pouco da janela afim de ajudar o trabalhador. Ouviu uma musica diferente. Um tipo de metal que lhe agradava aos ouvidos. Vinha do carro da menina estressada que futuramente lhe cederia passagem. Deixou-se levar pela curiosidade.
-Deixa eu te perguntar...que banda é essa?!

A garota abaixou a musica para ouvi-lo melhor.
-System of a Down

-ahh siim! Porra, vc tem bom gosto!

-ahhh! Brigaada!

A resposta da garota foi acompanhada de um sorriso. E eu preciso confessar leitor, ela tinha um lindo sorriso. Extremamente cativante. O sinal abriu. E o rapaz passou a frente dela, sorrindo também.

3ª história:

O rapaz corria em um ritmo devagar. Adorava correr naquele caminho em formato de circulo. Queria poupar energia para a noite. Cruzou com um cidadão que caminhava. Dois atletas de fim de semana. Um que corria e outro que caminhava. A camisa do homem que caminhava tinha os seguintes dizeres: “Sou gordo e daí?! Posso emagrecer. E você que é feio!”

Ao ler aquilo, o corredor sorriu. Simpatizava pela mensagem da blusa. O homem reparou no sorriso do outro. Permaneceu inexpressivo. No fim do percurso do corredor, os dois se encontraram novamente. O homem que caminhava sorria. Quando estavam bem próximos, ele gritou.

-TU É FEEIO!

O rapaz que corria riu! Os dois trocaram sorrisos bobos. E continuaram seus respectivos caminhos.

A vida é feita de vários momentos inexpressivos simples que nos fazem sorrir a cada dia. Valorize esses momentos!

obrigado pela leitura!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Grito-terapia

Depois do feito atípico do domingo, o rapaz se despediu dos amigos alegando cansaço. Uma mentira sincera. Não pretendia contar a ninguém seu próximo destino. Iria ao único lugar conhecido em que todos os gritos poderiam rasgar o céu. Era o lugar mágico de sua cidade. Poucos sabiam da existência de tal lugar.

A visita ao lugar mágico tinha um objetivo concreto. Só faltava a coragem para executar-lo. Estacionou seu carro e atravessou a rua. Aquela pista, tempos atrás era um ponto de freqüentes corridas ilegais. Fiscalizações eletrônicas alteraram a ordem das coisas.

O rapaz chegou onde queria. Sentia medo. A noite era fria. Estava só. A adrenalina subiu em seu sangue. Confundia pingos de chuva com passos assustadores. Mas ele não podia ir embora. Estava lá por um simples motivo: se permitir. Porque no fundo ele sabia, se permitir era, antes de tudo, aceitar seu medo infantil. O feito notável de horas atrás ainda passava pela sua cabeça. Não conseguia se concentrar no verdadeiro motivo para sua vinda a aquele lugar.

Observava em volta a noite vazia. Aos poucos se acostumava com a sensação do medo. Ouviu vozes distantes. Visualizou dois vultos aproximadamente a um quilometro dali. Provavelmente um casal apaixonado, buscando sentir a magia daquele lugar. Sentiu-se despreocupado. O casal o deixava ainda mais sozinho. Porem, não havia coragem. Um filme dos últimos meses passava pela sua cabeça. Os intensos altos e baixos o atormentavam. O rapaz fechou os olhos e encheu seus pulmões de ar. Por um momento esqueceu a realidade. Estava concentrado apenas no que veio fazer ali.

Poderia haver alguém o observando. O publico não enxergaria nada que fizesse sentido. Porque haveria um rapaz ali em pé, respirando tão intensamente? Porque ele está de cabeça baixa? Porque ele está tão estático?

E o homem sentiu que não poderia mais adiar aquele momento. Seu corpo não reagia. Ele precisava começar de qualquer jeito. Sem perceber, todo o ar contido em seus pulmões foi liberado subitamente de seu corpo em forma de grito. O grito durou menos do que planejara.

Por um breve momento caminhou em direção ao carro. Mas não podia voltar, ainda não estava satisfeito. Concentrou-se de novo. Soltou o segundo grito. Ainda de curta duração. Conseguiu sentir a sensação de liberdade. Seguiu a empolgação do momento. No terceiro grito sentiu sua garganta doer. Estava imune a dor. No quarto grito, sentiu as vibrações sonoras atravessarem seus tímpanos, chegando ao cérebro. Sentiu-se livre. Precisava daquilo a muito tempo. Porque cometer loucuras também é parte do aprendizado. Porque gritar sem motivos, pode ser sinônimo de sensatez. Depende da onde se quer chegar.

Precisava voltar a realidade. Essa é a diferença entre o artista e o louco. O artista volta para a realidade. Era um artista, estava de volta ao real. Caminhou lentamente em direção ao seu carro. Foi para casa e dormiu.

No dia seguinte se portou melhor diante daquilo que o chateava. Ainda não chegou ao nível ideal. Mas sentiu uma evolução. Então decidiu. Iria começar com seções mensais de grito-terapia no único lugar do mundo onde conseguiria rasgar o céu. E assim, aos poucos, o problema citado no post passado será solucionado. E a arte continuará a fazer sentido em sua vida.

Obrigado pela leitura!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Simplesmente patetico

Sabe qual é a maior dificuldade de se manter um blog? A falta do que escrever. Fico com receio das minhas reflexões serem chatas e repetitivas. Mas isso é um drama bem pessoal. Nesse post eu vou falar sobre algo que tem me deixado levemente incomodado. A comparação é clichê, mas o incomodo lembra uma pedra no sapato. Pelo menos por enquanto. Eu explico.

As aulas de teatro que eu to fazendo são, teoricamente, o maior meio de escape que tenho da realidade. São quatro horas semanais em que devo abandonar tudo aquilo que me cerca e me dedicar exclusivamente em negar o que é real. É a hora onde eu devo me permitir. Me permitir a errar. Porque o erro no teatro é bem vindo. A partir do erro vem o improviso, o que torna as coisas bacanas.

O que tem acontecido leitor é uma reversão na ordem de levar as coisas dentro e fora do teatro. Fora do teatro eu erro e vivo improvisando, concertando meus erros. E posso me dar o luxo de dizer que erro com convicção. Direi, sem um pingo de humildade, que faço arte até na hora de azucrinar os outros. É o pato way of life. Já foi comentado aqui. Atrai inveja e mau olhado. Atrai pessoas desconhecidas e sorrisos sinceros. Atrai diversão. Até quando vou conseguir sustentar-lo, só o futuro pode dizer. Mas é por causa dessa forma ‘pato’ de se viver que optei por fazer teatro. Sempre achei que fosse a minha cara. Sempre achei que as coisas iriam se encaixar de uma forma simetricamente perfeita. Achei que tinha talento para a coisa.

Mas de uns dias pra cá não tem sido assim. Durante as aulas, me sinto incapaz de me desconectar do real, de trabalhar com o imaginário, de mexer com o lúdico. Toda vez que pedem minha concentração, meus fantasmas atacam puxando para uma realidade nua e cruel. A realidade mais deprimente e sacana possível. Nessa brincadeira eu erro. E quando tentam me corrigir, tenho atitudes semelhantes ao de um cão vira-lata.E isso é sério! Isso é até motivo de risada para alguns. Mas não é engraçado. É patético. SIMPLESMENTE PATETICO. Me sinto patético.Esse ser que escreve, ao tentar fugir da realidade acaba se mostrando estúpido e infantil. Incapaz de estar no único lugar em que deveria. Incapaz de fazer a única coisa que precisa. Talvez meu inconsciente busque atenção. Um dia eu vou fazer terapia e talvez descobrir.

A primeira explicação viável da minha atitude inconscientemente infantil foi o fato de eu não estar ambientado aos colegas e espaço físico. Mas a verdade é que tudo isso não passa de um reflexo da minha imaturidade. Porque a realidade dói. E eu só não escapo da realidade na hora em que mais preciso. E eu simplesmente não sei o que fazer.

Enquanto escrevia, tive uma idéia. Espero ter coragem para realizar tudo aquilo que acabei de planejar. As pessoas na rua vão me achar louco. Terei uma história bem real para contar aqui nesse blog. No fim das contas descubro que meu problema não é apenas uma pedra no sapato. Chateia mais do que eu pensava.

Caro leitor, espero ter me expressado de forma clara nesse blog. Não consigo me permitir nas horas certas. Não consigo rir, chorar muito menos errar com a convicção de um artista. Não consigo abandonar o real na única hora em que preciso. Meu diagnostico aponta excesso de inibição e falta de permissão. E a patologia é séria! Com isso, deixo de ver o sentido da arte no mundo. As coisas não podem continua assim. Não mesmo!