domingo, 18 de abril de 2010

Fantasmas anônimos

Passou os últimos dias pensando na magia de sua cidade. Só se falava na sua cidade. Atualmente, a cidade da corrupção. A cidade de adolescentes agressivos e inconseqüentes. A cidade do ‘nada para fazer’. Mas ele não se importava. Ficava informado apenas para cumprir seu papel como cidadão. O que acontecia em sua volta não fazia grande diferença. Deixava as criticas para os mais informados e letrados. Tinha sede de arte. Em sua cidade havia cultura.

Mas quem é aquele rapaz solitário que constantemente se esconde no meu da multidão?!

-Sou filho de Brasília, a cidade dos encontros e desencontros. Sou filho de Brasília, a cidade da arrogância. Sou filho de Brasília, a cidade do progresso(leia-se regresso). Sou filho da cidade construída sob cimento e restos mortais. Caro amigo candango, devo lhe pedir um favor: não fale mal da minha cidade, você não tem esse direito. Respeito seus criadores. Exijo o mesmo de você.

Essa exigência tão pontual se deve as contradições daqui. No plano civil, crescemos 50 anos em 5. Pelo menos é o que diziam os políticos á 50 anos atrás. Brasília, fruto da politicagem. Minha replica para essa afirmação é bem pontual: No plano civil, crescemos 50 anos em 5. No plano moral, regredimos 500 anos em 5. Veja bem caro leitor, estamos falando sobre a cidade construída a base de cimento e restos mortais. Recentemente, relembrei desse fato tão porcamente registrado ao assistir uma peça de teatro. E é sobre isso que estamos falando hoje.

Em pleno século 20, ninguém se importava com a ralé imunda morta. O sonho de políticos continuava vivo sob o cadáver de trabalhadores simples. Acho que essa falta de dignidade moral explica tudo. A falta de escrúpulos de quem governa, a passividade de quem se faz governado. A magia dos encontros e desencontros, normalmente acompanhados de sorrisos sinceros, mascaram nosso triste passado. Os anônimos mortos foram esquecidos. Mas eles continuam aqui. Assombrando a nossa cidade. E isso faz de Brasília, o que ela é. Uma cidade cheia de mascaras, mas que nunca deixa de ser especial. Daqui a uns dias nossa cidade fará meio século de vida. Não temos governador. Mas não há o que se temer. Os fantasmas anônimos nos protegem. Os fantasmas anônimos vão garantir que Brasília continue sendo Brasília, independente do que aconteça daqui para frente. E eu sempre estarei protegido por esses fantasmas.

Penso em botar isso em minha dissertação de mestrado. Se a banca examinadora for composta de espiritistas, serei chamado de mestre.

Obrigado pela leitura!

7 comentários:

  1. Incrível. Essa foi a primeira palavra que pasosu na minha cabeça após ler seu texto.

    Outra coisa que pensei foi como seria bom que todos tivesse esse mesmo sentimento que vocÊ. Acredito que nossa cidade seria bem melhor. Pois temos tudo o que falta é essa paixão pelo local. As pessoas daqui são de variados pontos do Brasil e por isso não fazem questão de cultivar algum carinho que seja por aqui!

    Que bom que você o fez =D

    ResponderExcluir
  2. Gostei do texto, conseguiu articular uma idéia central de várias formas, isso sem falar em que a indignação é muito válida. Valeu, patinho. (comentando com o perfil do Desce Mais Um, não estranha)

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  4. O faz uma pessoa deixar de ser um anônimo na sociedade?? O que precisamos fazer ou ser??? Anônimos que fizeram parte da história... pelo jeito, só isso não basta.

    Gosto do seu blog. Gosto muito também do blog Divã da Lola. Que, por sinal, conheci, acessando o seu blog. Pena que saiu do ar. Vc sabe se ela vai voltar a escrever?

    ResponderExcluir
  5. Hum.. Muito bom.
    Meu diagnóstico pra você é dos melhores..
    Geralmente me irrito com gente que fala de Brasília.. gente que fala mal.
    No seu caso você falou a verdade.

    Taí..gostei.

    ResponderExcluir
  6. Muito bem Vitor!
    Vc é um crítico sensível e sensato!
    Parabéns! Brasília é mesmo esta cidade maravilhosa, corajosa e ousada. Enfrenta as tempestades e resigna-se ante à destruição provocada pelos corruptos.
    Abraço

    ResponderExcluir
  7. Eu tb farei das suas as minhas palavras e as colocarei em minha dissertação de mestrado...rs. Vc está convidado e será agora em junho.
    Até lá...

    ResponderExcluir