terça-feira, 30 de março de 2010

A garota de verde

Havia um rapaz que estava com seus amigos em uma roda de violão. Já era tarde da noite. Ele estava cansado e pensava em ir para casa. Sentia que havia perdido a primeira noite daquele que seria um grande feriado. Recebeu uma proposta indecente a uns minutos atrás. Recusou uma noite de amores de uma amante qualquer. Em meio a tantas músicas chatas, refletia sobre a superficialidade das coisas.

O amor era superficial. O amor oferecido pela amante estava resumido a movimentos de vai e vem, somados a gritos intensos da madrugada. Aquilo não bastava. Nem se quer o sustentava. Depois que o amor fosse concretizado, haveria vontade de ir sumir. Porque o rapaz já sabia como as coisas fluíam. Os 26 anos vividos, a graduação em psicologia e principalmente, as experiências vividas bastavam para prever o resultado das propostas indecentes. Já havia recebido propostas indecentes, passado por infinitas orgias. Aquele ritmo intenso de uma vida desregrada e irresponsável já não o sustentava. O mundo já não o sustentava.

Queria ir para casa. Aquela roda de violão, várias vezes repetidas, já não tinha a mesma graça. Seus amigos o saturavam. Olhava para o celular e se lembrada da mensagem indecente. A amante dizia estar molhadinha e depilada. Desejava a pomba sagrada.

Então nosso rapaz decidiu ir. Sentia-se só. Assim que ligou seu carro, teve uma idéia estranha. Precisava ver pessoas novas, observar-las e quem sabe conhecer-las. Expandir horizontes. Decidiu inovar. Foi para sinuca sozinho. Não para jogar, queria ver rostos novos. A sinuca era contramão de sua casa. Nada importava, a noite já estava perdida. Piorar não podia.

A música alta e o fedor do cigarro já eram características daquele ambiente. A novidade no lugar era a mulher que usava o vestido verde. Estava sentada só em uma mesa, longe da mesa de sinuca. Bebia cerveja e observava o ambiente. Tinha seios pequenos e aparentava corpo de atleta. A primeira olhada era apenas para construir hipóteses sobre os hábitos de vida da moça. Resolveu dar mais algumas voltas. Quando havia notado, a garota também o observava. Sentiu-se intimidado. Olhou para o celular tentando disfarçar o repentino interesse. A amante não existia mais. Pensava em um bom motivo para falar com a garota de verde. De repente, ela estava na sua frente, tomando atitude.

-Oi, vc está sozinho? Parece tão perdido aqui quanto eu.

O rapaz timidamente sorriu. Tomou ar e foi direto ao ponto.

-Procuro uma companhia para jogar sinuca, se interessa?

Essa foi a mentira mais sincera de toda sua vida.E naquela noite o mundo começou novamente. Porque o verde do vestido da garota significa esperança.

Obrigado pela leitura!

6 comentários:

  1. adoreeeei, Pato! é bem o estilo de narrativa que eu gosto. colocar esse gênero de texto intercalado com suas reflexões é mais um grande motivo pra me surpreender em todas as minhas visitas ao seu blog. beijos

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  2. nem preciso perder tempos dizendo que o texto está mais do que bom, uma só palavra define: Perfeito!

    E boa parte dessa reflexão foi inspirada na realidae não? =x

    =D

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  3. Nossa, patito, adorei.
    Realmente, mais uma ótima surpresa ao vir aqui no seu blog. Vai publicar narrativas assim mais vezes né?

    beijão!

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  4. Como eu sou a única chata q te visita, tomei a liberdade de fazer umas correções gramaticais no seu texto, pois a idéia ficou boa.
    Mando pro seu email??? Qual é ele?

    Bjim

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  5. posso afirmar que grande parte do texto foi inspirado na realidade. Engraçado, quando a gente quer sair da realidade, a primeira coisa que fazemos é busca-la como inspiração. Pretendo publicar outra sim. Só não sei quando.
    Obrigado pela motivação gente ;D

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