sexta-feira, 7 de junho de 2013

Futebol, suas doenças e a violência.

 Sempre me considerei muito fã de futebol. Fanático talvez. Quando meu time perde, fico sim chateado. Prefiro não transferir para outros campos da vida. Mas também não gosto de comentar. Quando pequeno, queria ser jornalista esportivo. Lia a respeito de futebol, gostava de estudar evolução tática e histórias da copa do mundo. Lembro que aos 12 anos, lia sobre a copa de 70. Sobre como um ditador retirou um técnico do comando da seleção porque ele ousou a peita-lo. E sobre como o Brasil ganhou aquela copa jogando o que contam que era seu melhor futebol de todos os tempos. Um belíssimo instrumento de alienação política e social.
Eu ando pelas ruas e vejo minha cidade mudando. Me desculpem por contar isso a vocês. Mas essa cidade (e esse país) não estão mudando para melhorar. Estão mudando para a copa do mundo. Se vai melhorar com isso ou não, é outra história. É uma consequência que não necessariamente está ligada a planejamento.
Eu vejo pessoas de terno, gravata e sorrisos falsos inaugurando estádios. Belíssimas arenas. Em alguns lugares, belíssimos elefantes brancos. Eu fico me questionando quantos desses políticos que estão ali realmente sabem o que é um escanteio e coisas do tipo.
Enquanto isso em nossos hospitais e escolas públicas, nos deparamos com a verdadeira realidade brasileira; escanteada por aqueles que nem devem saber o que é um escanteio. O futebol é para o povão. Sempre foi assim. Se deus existir, ele em sua profunda sabedoria, com certeza inventou o futebol num domingo para o grande povão ter um bom motivo para sorrir segunda. A vitória do seu time do coração, os lances sensacionais (ou não) daquela partida. O futebol é do povo. E não dessa meia dúzia de burgueses (desses, os quais eu me enquadro) que quase nunca foram em um estádio na vida. Sinceramente não consigo entender irão assistir aos jogos do Brasil por uma grana tão preta. Eu boicotei as copas. Só participo disso se eu ganhar dinheiro. Acho um atestado de estupidez o trabalho voluntário e o otimismo daqueles participam de tudo isso apenas em detrimento de uma grande festa.
Estão maquiando minha cidade. Estão distorcendo a logística do futebol. Tem algo muito errado nessa copa.
Alguém irá dizer que torcedores de baixa renda social são violentos e coisa do tipo e que o publico seleto não faz baderna e nem briga em estádio. Pode até ser. Mas já pararam e pensaram realmente porque tudo isso acontece? “o futebol é o ópio do povo”, alguém inteligente disse uma vez. Concordo. A questão é que exageraram na dose, causando uma certa dependência. Obrigado Médici. Você foi pioneiro disso aqui no Brasil. Tenho vergonha de saber que você foi Gremista. E raiva de pensar que essa atitude, a qual sofremos consequências até hoje, não é nem de longe a pior delas! Valeu!
Com a colaboração do nosso ilustríssimo ditador dos anos 70 (senão fosse ele seria outro!) é que encontramos a violência das grandes torcidas. A melhora desse quadro tem que começar pela punição. Não sou policial, nem entendo desse tipo de estratégia. Não sei nem errar como esse tipo de coisa deve ser feita. Mas deixemos claro que essa não é a única solução. Se tivéssemos um verdadeiro investimento a educação publica, com certeza metade desses baderneiros violentos que “não tem nada mais para fazer”, teriam mais oportunidades de emprego e qualificação, e menos oportunidades de violência. A conta é tão simples que nem parece verdade. Basta pensarmos na terapia de pessoas com transtornos mentais. Eles são mantidos com a mente ocupada. Porém, o fanatismo patológico não é uma exclusividade brasileira. Agora um sistema de saúde capaz de atender nossa população certamente faria um belíssimo trabalho preventivo. Mas “a copa não se constrói com hospitais, se constrói com estádios”.

Quando eu vejo essa logística distorcida de país (e talvez de mundo), confesso: me sinto bem deprimido.Sinceramente não acredito que um desabafo sincero como esse deverá ser lido por muitas pessoas, até por sua extensão. Mas se você for um dos poucos que não aguenta essa doença social que é a copa do mundo, essas violência urbana que se tornou o futebol, por favor, compartilha esse texto. Sei que com isso não mudaremos o mundo. Mas é extremamente confortável saber que não me encontro sozinho. Talvez quando tudo isso acabar, talvez eu realmente volte a gostar de futebol da forma como eu gostava antes. Até lá, acho que quero embora desse país. Obrigado.

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